segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Folga

Uai, não é possível! Logo hoje que estou precisando de fazer o cabelo, chego aqui e vejo esta placa, detalhe, escrito em letras gar-ra-fais: Estamos de folga esta semana!, desculpe as poucas letras.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Maristella

O interfone toca. Ela fica atenta, sente que algo de errado está acontecendo. Ele, sem graça, despista a conversa ao aparelho. Gesticula, argumenta, pede clemência. Ela fica de longe só observando. Coloca-o novamente no gancho, passa a mão no rosto e caminha até a sala. Ela olhando. Ele se recompondo... Ela num olhar questiona, ele responde:
  
Não, não é bem isto. Você no-va-men-te não entendeu nada. É claro!, penso todos os dias. Tem razão. Como fui me enfiar nessa joça? Sei, sei e já disse que sei. Olha menina, não me venha com prerrogativas, a vida já não está fácil e, antes de mais nada, saiba: não é porque é você que tenho que abaixar a bunda e colocá-la na janela. Eu sei… eu prometi, mas eu não sabia que tudo isso ia dar nisso. Claro, seus olhos me encantam. Seu carinho me afaga. Mas a culpa não é minha. É dela, aliás, são deles. O que vamos fazer? Não abro mão de ti. Brigo. Pago. Rasgo. Pego este maldito contrato e rasgo. Vem aqui… pode dormir no quarto hoje. Boa noite, amanhã cedo penso direito...

Ela entra, caminha até ao lado da cama, roda pelo tapete verde e se aquieta. Em poucos minutos roncos e sossego

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

De repente...

- Clarinha...
- Humberto! Quanto tempo, hein?
- É, você falou que iria me ligar no outro dia e até hoje nada...
- Pois é, não deu...
- Que aconteceu? Perdeu meu número?
- Não, não... eu até pensei em ligar, mas...
- Ah, entendo... não gostou da transa, né?
- Não, gostei demais...
- Então porque não ligou? Não queria mais?
- Clarinha, querer eu queria, mas...
- ... pensou que eu iria pegar no seu pé, né?
- Bem, eu não estou muito a fim de relacionamento sério, entende?
- Nem eu!
- É mesmo?
- É! Prefiro pegar um cara aqui, outro numa balada acolá...
- Ah, pensei que você fosse do tipo careta...
- Eu? Careta? Que nada... agora mesmo acabei de transar com o Carlos...
- Carlos? Da faculdade?
- Isso, o da barba...'
- Mas ele não é gay?
- Ah, mas com certos estímulos, ele até deu pro gasto...
- Nossa! 
- E você, Humberto, que tá aprontando?
- Ah, ando aí trabalhando com marketing...
- Hum... com o Teodoro?
- Com ele mesmo!
- Me passa o número dele, eu perdi...
- Não me diga que você e ele já...
- Uma das melhores fodas que já tive...
- Poxa, Clarinha... com quem que conheço que você ainda não transou?
- Com seu irmão...
- O Gustavo, você tá de olho no Gustavo?
- Ah, se ele estiver disponível, de repente...
- Porra, e pensar que eu cheguei a pensar que você queria ter um relacionamento sério comigo...
- Quem quer muito ter um relacionamento sério com você é o Carlos!
- O da barba?
- Ele mesmo... te acha um gato!
- Olha... quem sabe, de repente...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Eu sei


Foram dias,
Noites acesas,
Calor,
Mas tudo passa,
Sempre,
Passa...
Eu sei,

Deserto em luz,
Solidão aflita,
Desejos incandescentes,
Inexatidão exata,
Tropeços em plano,
Planos sem metas,
Metas...

Foram noites,
Dias escuros,
Frio,
Mas tudo passa,
Sempre,
Passa...
Eu sei,

No meu peito,
Apenas o desejo,
De algo,
Que como você,
Procurava,
Em dias,
Noites...

Eu sei,
Eu sei,
Eu sei.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Lençóis de cetim


É…

Fique calma, não se aflija, pois serão apenas, e poucas, palavras. Coisa de nada. Pouca coisa de um tudo. Tudo isso que um dia nos passou pela cabeça. Roupas jogadas, beijos beijados, falo no teu falar, gozos, gostos, lençóis. Cetim negro espalhado pelo quarto. Luz à meia luz. Intensos espasmos em curtos períodos. Há marcas. Estas marcaram-me a alma. Essa que hoje, você aí, desdenha e canta canções que ainda não terminei. Em frangalhos fico aqui. Esta selva aproveita os meus recortes e me consome. Pedra, selva, mundo, imundice, quarto. Passeio pelos quartos, esses mesmos onde já dormi com você. E hoje, neste dia sombrio, ainda passeio com a esperança de lhe encontrar nua espalhada sobre os lençóis negros de cetim, pelo qual escorregávamos, e onde nos encontrávamos. E mesmo triste, com o pau em riste, você também verá uma triste beleza. Pois é claro, minha cara, existe sim, existe sim uma beleza em toda essa tristeza.

Aqueço o peito com o café amargo, como uma fatia de queijo, ascendo um incenso, caminho até o quarto e espero as horas passarem. Deito em lençóis negros de cetim...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A sistemática das coisas imperfeitas

- Isso acontece...
- Eu sei...

Acendeu o cigarro, mesmo jurando, há mais de dez anos atrás, nunca mais voltar ao vício. Do lado, a mulher mais bela de toda a cidade, nua, cabelos soltos permeando o ambiente com seu perfume inconfundível.

- Vamos de novo?
- Espera só um pouco, tá?

Levantou, andou de pés descalços no frio piso da pousada, dirigiu-se ao banheiro. Deixou o Malboro queimar em cima da pia e se olhou no espelho, relembrando suas últimas horas: a chegada, a pergunta sobre onde iria se hospedar, o banho, a roupa para aguentar o frio, o bar onde se sentou, os olhares que trocaram, o beijo e o convite para o sexo. Jogou água no rosto, olhou novamente sua imagem no espelho, vislumbrou uma parte do seu corpo nu.

- Tá aí?
- Sim...
- Vem, tá frio aí...

Chegou rente à cama, apreciou novamente o corpo dela e delicadamente acariciou seus pés, pernas e conseguiu um suspiro. Com outra mão, acariciou os seios, o pescoço e arrancou, desta vez, uma súplica... 

- Vem, vem, vamos tentar de novo...
- Acho que não consigo...
- Quer que eu chupe?

Ah, a famigerada impotência sexual...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Doce da vida...


Mas é amargo. É sempre assim? E a vida, parece com ele? Na verdade se adoçarmos aos poucos fica bom. A vida também. Temos nossos torrões de açúcar que ajudam a adoçá-la. Mas nem sempre os torrões disponíveis são suficientes. E aqui, temos os torrões necessários para xícara? Café desperta. E a vida, o que a desperta? Você desperta a minha vida. Você e ele. Cada qual com seu jeito. Sempre a despertam. E eternamente a adoçaram também.  Assim como a fé é o sal da vida, filhos são o que fazer a vida ficar mais doce. E vocês, cada qual da sua maneira, adoçam a minha.

Fecha a caderneta, levanta da cadeira, olha pela janela, puxa a cordinha do sinal, o ônibus para, ele desce e sobe a Bahia em direção a Augusto... Manhãs gris de agosto.